Como sempre ocorre em épocas festivas o comércio, com o apoio da mídia, aproveita o clima emotivo da população e tenta nos empurrar seus produtos e conceitos de amor, felicidade, prazer, etc. A bola da vez agora é o Dia das Mães.
Mas o post não vai entrar nesse caminho de analisar a comercialização das datas festivas, fica para uma próxima vez. Vamos tratar é de uma lógica muito mais perversa, violenta e, ao mesmo tempo, muito sutil: o preconceito embutido nas propagandas no Brasil.
Estive nos últimos dias atento aos comerciais de shoppings, lojas, e dos mais variados produtos: de perfume a carros. Todos, sem exceção, excluíam a mulher negra, a família negra. Como se a base da família brasileira fosse composta somente por membros brancos. Num país onde predominam pardos e mestiços e com o aumento cada vez mais significativo dessas camadas à classe média, é no mínimo um contrasenso que os meios de comunicação, agências de propaganda, comércio e indústria tentem impor à sociedade e consumidores sua visão do país.
Apesar de passados mais de cem anos do fim da escravidão continuamos a pensar que somos uma nação branca, e que os negros são estranhos no ninho. Antes presos a seus senhores, os negros foram despojados de direitos e consequentemente da cidadania plena após o 13 de maio de 1888. Como consequência, a grande parte da população brasileira sofre com a falta de educação, saúde e de oportunidades. Para além desse quadro de marginalização, quando essa parte do povo brasileiro consegue, com muita luta, ascender a um determinado padrão de vida, são simplesmente ignorados pelos meios de comunicação de massa e pelo mercado.
Bem, a este ponto você deve estar a pensar que se o Congresso Nacional fizesse uma lei que obrigasse a inclusão de negros(as) nas propagandas, tudo poderia ser diferente. Ledo engano. Essa lei já existe! Ela criou o Estatuto da Igualdade Racial, que instituiu um amplo leque de políticas públicas de igualdade racial ne educação, saúde, concursos (cotas), etc. Mas, como no Brasil do presente e do passado a lei é só para "inglês ver" (lembram do Bill Aberdeen, da Lei do Ventre Livre e do Sexagenário??).
Enfim, resta a nós lutarmos contra essa lógica perversa que, ao mesmo tempo que prega o discurso de liberdade e cidadania, impõe-nos um mundo que não corresponde à realidade.