terça-feira, 10 de maio de 2011

A LÓGICA PERVERSA DO PRECONCEITO (PARTE II)

Sexta-feira, dia 13/05, "comemoramos" mais um ano da assinatura, pela princesa Isabel, da Abolição da Escravidão no Brasil. Fomos um dos últimos países no mundo a acabar com tamanha violência contra seres humanos.

No final do XIX,  nascia a República. As ideias desse regime ganharam força no Brasil a partir do fim da Guerra do Paraguai (com o fortalecimento do Exército) e tinham como norte, entre outros, o federalismo e a separação entre Estado e Igreja. Porém, essa nova forma de governo não previa a inclusão dos novos cidadãos (?), provenientes de séculos de escravidão. Assim, sucessivos governos (e a própria sociedade) excluíram a maior parte da nossa população. Negaram educação, saúde, segurança, renda, terra, enfim, todos os elementos formadores de uma vida cidadã. 

Atravessamos um século (XX) nessa mesma pegada. Presenciamos a luta por direitos civis nos EUA e na África do Sul. Nesses lugares, o preconceito contra o negro estava nas ruas, no rancor e na violência dessas sociedades intolerantes. O Apartheid acabou, mas não a luta por direitos, liberdade e justiça.
Infelizmente, no Brasil, a escravidão ganhou contornos mais "suaves" nas mãos da elite intelectual do início do século XX. Segundo o livro mais famoso sobre o tema, Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, a relação Senhor X Escravo estava recheada de "bondades". Nesta linha, os conflitos existentes na sociedade brasileira seriam amortecidos, isto é, os antagonismos que poderiam ocasionar choques violentos caminhariam, no Brasil, para um processo de harmonização que encobriu durante muito tempo uma sociedade preconceituosa, intolerante e violenta com o negro. 

Chegamos ao século XXI e ainda não conseguimos solucionar nossos problemas sociais. A discriminação contra o negro está presente nos índices de qualidade de vida, saúde, educação, entre outros. Por tanto, não creio que temos o que comemorar e sim protestar, e muito. Não podemos aceitar somente algumas leis e políticas públicas paliativas (como o sistema de cotas) para solucionar a questão do negro. 


Respeitar, em toda sua plenitude, quem foi fundamental para a construção do nosso país é dever de todos nós. Só assim, construiremos um país mais justo, onde prevaleça, na prática, o que está escrito na nossa Constituição: que todos somos iguais.

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