Pensei algum tempo antes de decidir escrever sobre o aborto. É o tipo de tema que incomoda só de falar o nome. Envolve setores da sociedade que raramente estão em sintonia entre si, como os cientistas, a Igreja (seja qual for) a população (independente da classe social) e o governo(aí, depende do interesse do grupo que está no poder).
Para começar queria esclarecer um dos pontos fundamentais sobre o aborto: quando começa a vida.
Segundo o professor Roberto Goldim, em entrevista à revista Superinteresante (219), "Biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser, com um novo código genético, começa no momento da união do óvulo com o espermatozóide. Mas há pelo menos 19 formas médicas para decidir quando reconhecer esse embrião como uma pessoa."
Bom, fica claro que a própria ciência tem dificuldade em reconhecer o estágio mais primevo da vida humana. Uma das correntes mais fortes dos cientistas sugere que a vida começa quando as atividades cerebrais são formadas. Então, segundo esse ponto de vista, abortar até o segundo mês de gravidez não seria crime.
Por outro lado,para a Igreja," vida é o encontro de um óvulo e um espermatozóide e, portanto, não há qualquer diferença entre um zigoto de 3 dias, um feto de 9 meses e um homem de 90 anos." (Superinteressante, 219)
Controvérsias a parte, um outro lado da questão do aborto tem que ser colocado. A questão dos direitos individuais e da saúde da mulher. Quando o Estado Democrático de Direito, regula o que se pode ou não fazer, interferindo na capacidade de escolha dos indivíduos, torna-se o oposto daquilo que representa. E essa interferência afeta não só a liberdade de escolha, mas também a saúde das pessoas envolvidas. Enquanto o Estado não assume sua responsabilidade, proliferam as clínicas clandestinas que mais parecem verdadeiros açougues humanos. Assim, a mulher, principalmente a mais pobre, fica duplamente desamparada.
E toda essa discussão sobre tema tão relevante fica ainda mais obscura quando interesses de grupos políticos, preocupados somente em estar no poder, usam a boa fé das pessoas para criar um clima de Inquisição medieval, em pleno século XXI. Assim, as ideias e o debate, ficam relegados a segundo plano. Disseminando, desta forma, o medo e o temor entre a população.
Mas como é a questão do aborto em outros países? Também na Superinteressante(219), encontramos a seguinte situação:
EUA
O aborto é permitido nos EUA desde 1973, quando a Suprema Corte reconheceu que o aborto é um direito garantido pela Constituição americana. Pode-se interromper a gravidez até a 24ª semana de gestação - na época em que a lei foi promulgada, era esse o estágio mínimo de desenvolvimento que um feto precisava para sobreviver fora do útero.
Japão
Foi um dos primeiros países a legalizar o aborto, em 1948. A prática se tornou o método anticoncepcional favorito das japonesas - em 1955 foram realizados 1 170 000 abortos contra 1 731 000 nascimentos. Hoje, o aborto é legal em caso de estupro, risco físico ou econômico à mulher, mas apenas até a 21ª semana - atual limite mínimo para o feto sobreviver fora do útero.
França
Desde 1975 as francesas podem fazer abortos até a 12ª semana de gravidez. Após esse período, a gestação só pode ser interrompida se dois médicos certificarem que a saúde da mulher está em perigo ou que o feto tem problema grave de saúde . Em 1988, a França foi o primeiro país a legalizar o uso da pílula do aborto RU-486, que pode ser utilizada até a 7ª semana de gestação.
Chile
Proíbe o aborto em qualquer circunstância. A prática é considerada ilegal mesmo nos casos que colocam em risco a vida da mulher. Em casos de gravidez ectópica - quando o embrião se aloja fora do útero, geralmente nas trompas - a lei exige que a gravidez se desenvolva até a ruptura da trompa, colocando em risco a saúde da mulher.
Podemos notar então que ainda existem diferenças de concepções entre os países acerca da legalização ou não do aborto. Mas o fundamental, é que ocorra aqui uma legislação que venha beneficiar a vida. Como ainda não somos um exemplo de sociedade justa,em todos os aspectos, temo, que se legalizado o aborto, seja utilizado como válvula de escape para nossos problemas mais dramáticos e urgentes como a pobreza, a falta de saúde e educação do nosso povo.
PS: Poderia desenvolver muito mais o tema, mas deixo para fazer isso à medida que forem chegando os comentários. Abs