Lembro como se fosse hoje da minha primeira professora. E tenho essas lembranças porque naquela época a gente ficava muito tempo com a mesma professora. Não havia a rotatividade de hoje. Atualmente se ESTÁ professor, é uma condição passageira até encontrar coisa melhor.
Mas quero falar da professora. Como muitas mulheres de sua geração teve que brigar muito para conquistar seu espaço (apesar do magistério sempre ser palco de domínio feminino). Lembro que contava que sua vida era corrida. Trabalhava em duas escolas, às vezes em três quando o orçamento apertava. Fazia ainda a jornada dupla (tripla?) de trabalho, cuidando da casa, do marido e dos três filhos. Sim, tinha três filhos.
Muitas vezes, sem ter com quem deixá-los, levava-os para a escola e, ali seu papel de professora e mãe confundia-se. Hora do almoço. Correria para chegar em casa, esquentar a comida, dar banho, arrumar. Ufa! Segundo tempo, ônibus lotado, material pesado com as provas e trabalhos corrigidos durante o fim de semana. Finalmente em casa. Lar doce lar. Que nada. Jantar para o marido e os filhos, um com o gosto diferente do outro. Hora de ensinar a lição, tomar a tabuada. O filho do meio, dizia, era o que mais dava trabalho. Contava que o filho tinha mania de esconder uma revista em quadrinhos dentro do livro e fingia que estudava. Mas não adiantava, ele só iria dormir depois da tabuada na ponta da língua.
E lembro também, pelos jornais, que a vida do professor não estava fácil. Baixos salários, pagamentos atrasados, escolas caindo aos pedaços e greves. E a nossa professora foi se meter no sindicato. Aprendeu a ser sindicalista e a defender os interesses não só dos professores, mas por extensão os dos alunos. Sua vida ficou de ponta cabeça. Não estava mais na sala de aula, mas seus compromissos com o sindicato eram muitos. Porém, nunca abandonou a educação de seus filhos.
Vida de professor é difícil, de professora mais ainda. Numa dessas coisas do destino, perdeu seu marido. Se viu com três filhos para criar. Agora trabalhava em três escolas e ainda no sindicato (voz até hoje ativa e respeitada). Não esmoreceu, como dizia um slogan da época "quem é de luta, luta sempre". E assim encaminhou os filhos na Universidade e no mercado de trabalho.
Hoje, depois de tanto tempo, e luta dessa professora, tenho a oportunidade de agradecer publicamente pela sua dedicação, paciência, amor e carinho que sempre teve comigo e com minhas irmãs.
Obrigado mãe. Minha melhor professora.
que lindo esse texto
ResponderExcluirMUITO lindo *--*
ResponderExcluirSimplesmente formidável.
ResponderExcluirBelo texto, bela homenagem.
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